Eleições no sindicato dos Bancários: Entrevista com Katia Furtado, Candidata a presidente pela chapa 2
ProfªEdilza Fontes: Kátia, o nome da CHAPA 2 é bastante instigador. No slogan vocês afirmam que sindicato livre é dos bancários. Essa afirmação explicita uma crítica à atual gestão do Sindicato?
Kátia Furtado: Edilza, é um prazer poder falar aos leitores do seu blog. Muito obrigada pelo convite, pela oportunidade.
Respondendo à sua pergunta, quando dizemos SINDICATO LIVRE, estamos afirmando que a LIBERDADE é o principal valor para garantir que a missão estatutária do Sindicato se efetive na gestão. Se uma direção sindical, eleita para cumprir a missão do Sindicato, está profundamente atada a compromissos político-partidários, ela amarra a entidade a esses compromissos, o que prejudica, enormemente, a capacidade do Sindicato de cumprir sua missão: defender os interesses, direitos e conquistas dos trabalhadores e não dos governos, direções de bancos e banqueiros.O que vimos na atual gestão do Sindicato foi exatamente esse atrelamento que levou nosso Sindicato ao imobilismo. Quando precisavam escolher entre defender um direito dos bancários ou defender os interesses dos governos, representado nas direções de bancos, nas mesas de negociação eles sempre defendiam os interesses dos governos, porque, em verdade, eles consideram que são “seus” governos, são os governos de seu partido e de sua facção partidária, no caso do governo estadual. Ou seja, o compromisso deles é maior para com os governos e as direções de bancos indicadas por esses governos, do que para com a categoria. E com isso nós, bancários e bancárias, é que perdemos em direitos e em dinheiro no bolso, inclusive.
O que explica, por exemplo, a queda da regra básica da PLR de 15% para 13%, aceita em mesa de negociação com a Fenaban, pelas direções sindicais, em meio a uma das mais poderosas greves dos últimos tempos? E ressalto que durante toda a campanha salarial, o que estava sendo afirmado nos sites da Contraf/CUT e do Sindicato dos Bancários era a regra básica de 15%, quando já estavam aceitando a queda para 13%, sem dizer isso para os bancários. Ou seja, a categoria votou uma coisa nas assembléias e depois, na assinatura da Convenção foi outra. Isso tudo caracteriza uma direção sindical que não mais dialoga e respeita a decisão da base da categoria.
É legítimo e legal uma pessoa escolher militar em um partido, ou uma tendência interna a um partido, mas quando isso impede a ação de um Sindicato, que tem uma missão classista, estatutária, essa pessoa deve renunciar a um ou a outro, em nome da coerência, dos princípios éticos, da transparência. Um Sindicato é um instrumento fundamental e decisivo de luta de uma categoria e não pode ficar refém de um grupo político e suas conveniências político-partidárias.
Por isso afirmamos: SINDICATO LIVRE É DOS BANCÁRIOS. Queremos nosso Sindicato desatrelado, livre para lutar pelos bancários e bancárias.
ProfªEdilza Fontes: Você foi reeleita para a presidência da Associação de Funcionários do Banpará, o que significa que você ‘conviveu’, como presidenta da AFBEPA, com a atual gestão no Sindicato dos Bancários, do ponto de vista institucional. Como foi essa convivência?
Kátia Furtado: Edilza, desde o início, em 2007, havia uma tensão, mas sob controle de ambas as partes. Nós conversávamos sobre algumas questões dentro do Banpará. Havia um certo diálogo. A eleição do Sindicato dos Bancários sempre acontece cerca de um mês depois da eleição da AFBEPA e, em 2007, eles estavam apoiando a outra candidata na eleição da AFBEPA, porque sabiam que nós também iríamos apoiar outro candidato na eleição do Sindicato. De fato foi o que ocorreu: ganhamos a eleição da AFBEPA em 2007 e apoiamos o presidente da AEBA, Sérgio Trindade, que na época era o candidato contrário a eles para a eleição do Sindicato. Agora, estão juntos, mas se digladiaram muito em 2007 e mesmo antes, quando compartilhavam as direções anteriores no Sindicato.
Bem, o Sérgio Trindade, o grupo da artban, perdeu aquela eleição e desde então não adotou uma postura de se reconstruir de verdade na categoria. Ao contrário, a artban ficou no recuo, sem abrir espaço para novas lideranças, para novas lutas e a DS acabou se rendendo completamente à lógica de seu governo no estado.
Eu, à frente da AFBEPA, não poderia adotar nem uma postura e nem outra. Não poderia ficar no recuo e nem me render ao governo. Primeiro porque não é meu estilo e nem acredito nisso, segundo porque as demandas do funcionalismo do Banpará são muito pesadas, urgentes, são muitos problemas e irregularidades que tive que realmente enfrentar e buscar resolver. A própria responsabilidade que assumi, me colocou em confronto com o imobilismo e o governismo de ambos os grupos. Daí os conflitos se tornaram inevitáveis.
Mas o rompimento definitivo se deu, mesmo, quando eles ficaram calados diante da não implantação do PCS no Banpará e nós, da AFBEPA, lançamos a Campanha pelo PCS. Eles realmente passaram a nos excluir e até pessoalmente a nos difamar dentro do banco, usando de condutas lamentáveis, criando um clima de pressão dentro do Banpará contra a AFBEPA. Só que os bancários e bancárias viram e compreenderam tudo. De nossa parte, sempre buscamos o diálogo, mas eles foram e são muito intransigentes e têm dificuldades de conviver com quem pensa diferente. Querem sempre impor sua lógica, seu pensamento único. É algo muito constrangedor. Como exemplo, veja só: eles impuseram nossos representantes no Comitê Trabalhista do banco, não permitindo que os elegêssemos diretamente, como sempre havia sido antes; anularam a eleição do representante dos funcionários no Conselho de Administração do Banpará, dez minutos antes do término da eleição, porque sabiam que estavam perdendo, já que indicaram a Comissão Eleitoral que tinha os resultados parciais do pleito e havia um favoritismo muito claro do candidato apoiado pela AFBEPA (a outra candidata era apoiada pelo Sindicato); e excluíram a AFBEPA do GT do PCS, o que revela essa tendência a anular, a excluir sempre quem pensa diferente deles. É assim que eles ‘convivem’ institucionalmente.
ProfªEdilza Fontes: A atual direção do Sindicato reivindica para si a mais importante conquista dos bancários do Banpará nos últimos anos: o PCS. No entanto, a AFBEPA afirma que a conquista do PCS foi fruto de uma luta dos funcionários e da própria Associação e que foi garantida, de fato, após a concessão de uma Tutela Antecipada pela Justiça do Trabalho. Conte-nos, rapidamente, essa história do PCS no Banpará.
Kátia Furtado: Edilza, o que eu te direi aqui é exatamente o que qualquer isento bancário ou bancária do Banpará te diria e te dirá se for perguntado: o PCS é uma conquista da luta dos bancários e bancárias do Banpará, que foram mobilizados pela AFBEPA. Foi a partir dessa mobilização, da Campanha pelo PCS, da luta dos funcionários, que conseguimos pressionar o Sindicato a convocar uma assembléia e depois conseguimos aprovar a Ação de Cumprimento que deu origem a um processo na Justiça do Trabalho e foi quando ganhamos a Tutela Antecipada concedida pelo Juiz Federal do Trabalho Dr. Pedro Tourinho Tupinambá.
Até aí, a direção do Banpará e o Sindicato dos Bancários, juntos, concordavam em apenas aditar o ACT e prometiam implantar o PCS primeiro em agosto de 2009 e depois em janeiro de 2010, mas sempre esquecendo as perdas financeiras com a não implantação em 18 de maio de 2009, data acordada no ACT. Ocorreu que a Tutela Antecipada determinou a implantação do PCS em janeiro de 2010, mas com efeito retroativo a 18 de maio de 2009. Então, essa decisão mudou completamente nosso poder de negociação diante do banco e do sindicato, tanto que daí o banco teve que reconsiderar as perdas e, por isso, conseguimos negociar uma bonificação bem superior ao antigo tíquete de R$ 250,00 que antes o banco propunha em troca do nosso PCS.
Como estava determinado na Tutela Antecipada, a primeira etapa do PCS, a reclassificação na nova tabela, foi, de fato, implantada, mas logo depois excluíram a AFBEPA do GT do PCS.Agora, há uma tensão muito grande porque o GT construiu um Regulamento que determinava, por exemplo, que o interstício para promoção por antiguidade seria de dois anos, com a possibilidade de ocorrer duas vezes nesses dois anos. No entanto, o banco modificou, unilateralmente, esse Regulamento e determinou o interstício passaria a ser de quatro anos. Um claro prejuízo aos funcionários, considerando mais de 15 anos de salários congelados no Banpará. Nós, da AFBEPA, saímos em defesa do Regulamento produzido pelo GT e eles, também por isso, nos excluíram. Os bancários e bancárias estão bastante incomodados com essa situação toda e pedem que façamos uma campanha para que a AFBEPA retorne ao GT do PCS. Eu digo que essa é uma decisão da categoria, mas queria ver o Sindicato chamar uma assembléia para decidir isso. Não chamam.
ProfªEdilza Fontes: Kátia, você aceitou o desafio de encabeçar uma chapa bastante heterogênea, ao que parece, do ponto de vista político-partidário. Qual a composição e o que unifica a CHAPA 2? A presença de membros da atual diretoria do Sindicato representa um racha interno na própria direção sindical?
Kátia Furtado: Edilza, veja só: nunca usamos como critério de composição de chapa a filiação partidária de qualquer um. Te disse e reafirmo: qualquer pessoa tem liberdade garantida na Constituição Federal para se filiar a um partido, mas isso não pode prejudicar a ação de um Sindicato. O que eu considero muito rico e importante em nossa chapa é que há algumas pessoas filiadas a alguns partidos e há uma maioria que não é filiada a nenhum partido, e que nunca teve sequer uma experiência partidária ou de militância em campanha eleitoral, mas isso não tem significado algum entre nós. Agora, eu sou e serei sempre a primeira a garantir, de qualquer forma que jamais qualquer decisão de partido submeta uma decisão do sindicato na defesa da categoria. Quem tem partido vai viver sua vida partidária no partido e não na ação do sindicato. Na ação do sindicato o que deve ser determinante é a missão estatutária, legal, classista do sindicato. É isso.Em nossa chapa há três pessoas que compuseram a atual gestão e que romperam porque foram excluídos, e foram excluídos porque ousaram pensar diferente e tiveram a dignidade de, divergindo, manter suas posições coerentes. São o Marlon e o Igor Téo, do Banco da Amazônia, e o Edvaldo do Banco Rural. Eles não aceitaram se submeter aos equívocos. Por isso foram sendo afastados, rejeitados, excluídos no sindicato. Sem saída, romperam de forma clara, colocando para a categoria seus reais motivos. Isso está certo. Foram honestos. Isso é bom.
O que nos unifica é que temos uma avaliação conjunta, que reflete uma visão da maioria da categoria, de que essa atual gestão está profundamente atrelada aos governos, às direções de bancos e aos banqueiros e que, por isso, eles perderam as condições de nos defender e lutar por nós, enquanto bancários e bancárias. Construímos um programa de ação bem definido pra colocar nosso sindicato na defesa dos interesses, direitos e conquistas dos bancários e bancárias. Isso significa que quando for preciso negociar, com independência de classe, com as direções de bancos, nós negociaremos, mas quando for preciso ir para o enfrentamento com a direções de bancos, nós iremos, sem receio de desagradar aos governos ou as próprias direções de bancos. Isso nos unifica e muito: essa liberdade para lutar de forma equilibrada, justa e correta.
ProfªEdilza Fontes: Você já foi diretora do Sindicato dos Bancários e, na época, você era ligada ao grupo do Valtinho e da Vera Paoloni, para citar dois ex-presidentes do Sindicato, ligados à chamada Articulação Bancária. Como se deu o seu rompimento com esse grupo?
Kátia Furtado: Havia uma ligação pessoal e política entre eu e a Vera Paoloni, que me convidou a ser dirigente sindical. Mesmo quando discordávamos, e isso acontecia muito, mas havia um respeito mútuo. Eu a considerava uma amiga. Quando assumi a AFBEPA as coisas mudaram, porque eu não correspondi ao que, talvez, ela imaginava. Eu assumi o que sempre havia sido, com uma atuação que combina diálogo com luta quando é necessário. Não me submeti aos ditames da direção do banco, do sindicato e nem ao governo do estado. Tomamos rumos diferentes eu e a Vera. Foi o que ocorreu.
ProfªEdilza Fontes: Foi bastante difundida, na época, uma versão segundo a qual a ex-presidenta do Sindicato dos Bancários, Vera Paoloni, teria sido exonerada do cargo de assessora do Presidente do Banpará, assim que assumiu a governadora Ana Júlia, por ter apoiado sua chapa para a AFBEPA em 2007. Isso é fato? O que explicaria agora essa coligação em uma chapa composta pela DS e Articulação Bancária, na sua avaliação? Você vê uma real unidade entre esses dois grupos?
Kátia Furtado: Edilza, primeiro os motivos que levaram a DS a exonerar a Vera Paoloni do cargo de assessora da Presidência do Banpará, são, até hoje, obscuros. Há uma versão, realmente difundida, de que ela teria sido retaliada após nos apoiar na eleição pra AFBEPA. Outra versão seria a de que haveria uma dificuldade de convivência, de estilos, entre a então assessora e o então presidente. Enfim, isso ficou enterrado no passado pela própria Vera Paoloni.
Quanto à composição da chapa DS e artban, bem, o que eu vejo é que eles têm uma avaliação de que estão desgastados na categoria e que, se batessem chapa, abririam a possibilidade para uma terceira via ganhar. Então se unificaram por uma questão de sobrevivência política na categoria bancária. Me ofereceram cargos nessa chapa, mas como eu poderia compor com esses grupos, depois de toda a conduta equivocada que eles adotaram nos últimos três anos? Não creio que possuam uma real unidade, mas uma composição por necessidade, por sobrevivência, pra tentarem, desesperadamente, se manter na direção do sindicato.
ProfªEdilza Fontes: É bastante visível o crescimento da Chapa 2 na disputa eleitoral para o Sindicato dos Bancários. A que se deve, a seu ver, esse crescimento e qual a real possibilidade de uma vitória da oposição nessa eleição?
Kátia Furtado: O crescimento da nossa chapa, nessa eleição, primeiro se deve a um trabalho concreto, uma atuação de referência na Associação dos Funcionários do Banpará - AFBEPA, em defesa dos direitos dos funcionários do Banpará. Outro grande motivo do nosso crescimento é a crítica correta que fazemos ao atrelamento dessa atual gestão aos governos, direções de bancos e banqueiros e o fato de que isso é real, de que se comprova na vida concreta. Os bancários e bancárias vêem isso, percebem isso porque nas últimas lutas essa atual direção se posicionou contra os interesses da categoria. Outro grande motivo de nosso crescimento são as propostas que temos e que os bancários e bancárias estão contribuindo, sugerindo, por onde passamos nos locais de trabalho, estamos acolhendo as sugestões dos colegas de trabalho. Mas o grande motivo do crescimento da nossa Chapa 2 é o desejo de mudança na categoria. Edilza, isso é tão forte, tão poderoso que é muito maior do que o poderio econômico, do que toda estrutura que eles têm. A categoria quer a mudança, quer mudar nosso sindicato, quer que nosso sindicato se posicione do lado dos bancários e bancárias. Isso é mais forte que tudo. E é isso que explica, em síntese, nosso crescimento.
Diante disso, existe sim uma real possibilidade de vitória dessa mudança que está representada na nossa Chapa 2. Claro que estamos em uma campanha muito desigual. Nossa campanha é modesta, com nossos próprios recursos, com uma ação entre amigos pra arrecadar dinheiro e poder pagar nosso material impresso, o deslocamento dos membros de nossa chapa pela região metropolitana e pelo interior do estado. Costumamos usar uma figura simbólica: a do Davi contra o Golias. O pequeno Davi é a expressão de libertação de seu povo que estava aprisionado pelo gigante Golias. Davi tinha uma fé imbatível, uma estratégia certeira e uma baladeira, um estilingue. Somos esse Davi. Estamos oferecendo, com muita dignidade, uma opção de mudança para a categoria. Isso, em si, já é uma vitória. Vencer a eleição é uma conseqüência de tudo isso. Quem decide não é o poder econômico e nem a estrutura. Quem decide é a vontade da categoria. Quem decide são os bancários e bancárias que saberão escolher o que querem, de verdade. Como diz a bela música do Gonzaguinha, ‘Semente do Amanhã’: “...fé na vida, fé no homem, fé no que virá, nós podemos tudo, nós podemos mais. Vamos lá fazer o que será!” Vamos construir com nossa vontade e mudança e colocar nosso Sindicato ao lado da luta dos bancários.
Muito obrigada, Edilza. Um forte abraço a você e aos leitores do seu blog.
Obrigada Katia e boa sorte.
Postado por Edilza Joana Oliveira Fontes.
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